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Inesperadamente, o contabilista Francisco Machado da Cruz telefonou a Fernando Negrão para lhe comunicar que não estava desaparecido. Na véspera, Ricardo Salgado comentara ‘’não fui eu que o fiz desaparecer’’, sugerindo, se a minha intuição hermenêutica não está enferma, que alguém o fizera desaparecer, na pior das hipóteses do alcance de Ricardo Salgado. É lícito imaginarmos que, se alguém o fez desaparecer, alguém o fez aparecer, no momento oportuno.

Fernando Negrão, o Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito ao BES, foi Director Nacional da Polícia Judiciária. Não sei porque razão, ao ouvir e ver Francisco Negrão transmitir que o contabilista lhe telefonara a comunicar que não está fugido nem desaparecido e se encontra disponível para prestar depoimento na Comissão, a ‘’coisa’’ me pareceu uma daquelas conferências de imprensa de última hora da Polícia Judiciária, a comunicar uma apreensão sensacional de droga.

No âmbito do processo de investigação que corre no DCIAP, os principais depoentes no âmbito do Inquérito Parlamentar estão constituídos arguidos e foram-lhes impostas medidas de coacção severas. Ao Presidente do BES, Ricardo Salgado, foi aplicada uma caução em substituição da prisão preventiva. É suposto que uma das medidas aplicadas seja a proibição de todos os arguidos estabelecerem e desenvolverem contactos entre si.

Se tudo o resto decorresse na normalidade, sem o aparato cénico que se tornou habitual em torno das intervenções da justiça com envolvimentos políticos, esta medida preventiva seria porventura compreensível e compatível com a normalidade, ou mesmo desejável.

Das duas uma, como é hábito dizer. Os tempos da justiça e os da política andam descoordenados ou andam escrupulosamente coordenados.

A mim, pessoalmente, parece-me que andam muito bem coordenados. Sendo estes processos de grande complexidade e sendo também certo que se tornou num hábito dos magistrados e investigadores em Portugal anteciparem a investigação com medidas que, em regime de normalidade, pressuporiam já uma consolidação madura das suspeitas, o DCIAP e o TCIC entenderam sabiamente que a melhor forma de a investigação se esgueirar através da complexidade seria fechar os suspeitos todos na mesma cela na Assembleia da República. Meter tudo num saco de gatos.

Os investigadores sabem que quando proíbem os suspeitos de comunicarem entre si estimulam o apetite e impulsionam a comunicação. Basta depois apurar o ouvido. Mas nunca tinha ocorrido antes aos investigadores pôr os suspeitos todos à bulha na ‘’Casa dos Segredos’’.

Aquilo a que temos assistido no Parlamento é deplorável. Uma tragicomédia.

Resta-nos a inspiração para uma novela, plena de condimentos e alusões à torpeza humana.

Mas o papel mais deplorável nesta comédia foi assumido pela oposição, nomeadamente o PCP e o Bloco de Esquerda, que assimilaram na perfeição o seu espaço e o seu tempo na comédia, deslumbrados com a clarividência e a espontaneidade de José Maria Ricciardi e reforçando os argumentos sobre que se fundamentou a intervenção e o programa de Carlos Costa.

É tudo uma grande trapalhada e nunca entenderemos o que se passou com o BES. Mas o perfil do culpado disto tudo está conclusivamente traçado.

O tema do terceiro acto da comédia será a limpeza do retrato de Ricardo Salgado, tal como se limpa o de Oliveira e Costa. Mas isso ficará para depois, quando o Novo Banco estiver vendido e estiver constituída a PARVALOREM do BES para administrar o lixo. Então conhecer-se-há o rol dos devedores que enganaram Ricardo Salgado.

Nada de novo a leste deste inferno.

Mas fica uma questão por responder.

O Ricardo Salgado é idiota? Porque razão foi ao Parlamento declarar com tanta convicção que o seu contabilista estava desaparecido se sabia que, na manhã seguinte, telefonaria ao Fernando Negrão a fazer ‘’prova de vida’’?

Quem semeou a desordem pública?

 

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18:19



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